quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Poema Enjoadinho


Vinícius de Moraes

Filhos...  Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos, como sabê-lo?

Se não os temos,
Que de consulta
Quanto silêncio...
Como os queremos!
 
Banho de mar diz que é um porrete...
Cônjuge voa, transpõe o espaço
Engole água, fica salgada
Se iodifica
Depois, que boa...
Que morenaço que a esposa fica!
Resultado: FILHO!
 
E então começa a aporrinhação:
Cocô está branco!
Cocô está preto!
Bebe amoníaco!
Comeu botão...

Filhos? Filhos...
Melhor não tê-los!
Noites de insônia
Cãs prematuras
Prantos convulsos
Meu Deus, salvai-o!
 
(...)

Melhor não tê-los...
Mas se não os temos,
Como sabê-los?
 
Como saber
Que macieza nos seus cabelos
Que cheiro morno na sua carne
Que gosto doce na sua boca!
 
Chupam gilete
Bebem shampoo
Ateiam fogo no quarteirão...
 
Porém, que coisa!
Que coisa louca!
Que coisa linda que os filhos são!

O texto acima foi extraído do livro "Antologia Poética”

Um comentário:

  1. “Filho é um ser que nos emprestaram para um curso intensivo de como amar alguém além de nós mesmos, de como mudar nossos piores defeitos para darmos os melhores exemplos e de aprendermos a ter coragem. Isso mesmo! Ser pai ou mãe é o maior ato de coragem que alguém pode ter, porque é se expor a todo tipo de dor, principalmente da incerteza de estar agindo corretamente e do medo de perder algo tão amado.
    Perder? Como? Não é nosso, recordam-se? Foi apenas um empréstimo!” (José Saramago)

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