quarta-feira, 14 de setembro de 2011

GRÁVIDO - Gonzaguinha




Grávido...
Porque será que um homem não pode?
querer estar estando sempre ávido
por entender em si a semente
que ele vê na barriga
daquela rapariga
que passa em estado interessante
interessante
nove luas 
nove meses
tantas transformações...
muda a pele 
tudo muda
tudo vale para ter o fruto 
e de repente rebento
abrir a porta a dar à luz
o choro 
a chama da nossa vida
reluz,
atrai, 
seduz...

Ô Mãe, como seria ter um filho?
saber passo a passo da relação
à alegria do parto
cuidado pela fêmea
que a todos nós segura
engravidado por ela
na relação da paixão mais pura
Mãe, como seria ter um filho?

Um comentário:

  1. Ser pai...
    Ser pai é acima de tudo,
    não esperar recompensas.
    Mas ficar feliz caso e quando cheguem.
    É saber fazer o necessário por cima e por dentro da incompreensão.
    É aprender a tolerância com os demais e exercitar a dura intolerância (mas compreensão) com os próprios erros.

    Ser pai é aprender errando, a hora de falar e de calar.
    É contentar-se em ser reserva, coadjuvante, deixado para depois.

    Mas jamais falar no momento preciso.

    É ter a coragem de ir adiante,
    tanto para a vida quanto para a morte.
    É viver as fraquezas que depois corrigirá no filho,
    fazendo-se forte em nome dele e de tudo o que terá de viver para compreender e enfrentar.

    Ser pai é aprender a ser contestado mesmo quando no auge da lucidez.
    É esperar.
    É saber que experiência só adianta para quem a tem, e só se tem vivendo.

    Portanto, é agüentar a dor de ver os filhos passarem pelos sofrimentos necessários, buscando protegê-los sem que percebam, para que consigam descobrir os próprios caminhos.

    Ser pai é saber e calar.
    Fazer e guardar.
    Dizer e não insistir.
    Falar e dizer.
    Dosar e controlar-se.

    Dirigir sem demonstrar.
    É ver dor, sofrimento, vício, queda e tocaia, jamais transferindo aos filhos o que, a alma, lhe corrói.

    Ser pai é ser bom sem ser fraco.
    É jamais transferir aos filhos a quota de sua imperfeição, o seu lado fraco, desvalido e órfão.

    Ser pai é aprender a ser ultrapassado, mesmo lutando para se renovar.
    É compreender sem demonstrar, e esperar o tempo de colher, ainda que não seja em vida.

    Ser pai é aprender a sufocar a necessidade de afago e compreensão.
    Mas ir às lágrimas quando chegam.

    Ser pai é saber ir-se apagando à medida em que mais nítido se faz na personalidade do filho, sempre como influência, jamais como imposição.
    É saber ser herói na infância, exemplo na juventude e amizade na idade adulta do filho.
    É saber brincar e zangar-se.

    É formar sem modelar, ajudar sem cobrar, ensinar sem o demonstrar, sofrer sem contagiar, amar sem receber.

    Ser pai é saber receber raiva, incompreensão, antagonismo, atraso mental, inveja, projeção de sentimentos negativos, ódios passageiros, revolta, desilusão e a tudo responder com capacidade de prosseguir sem ofender; de insistir sem mediação, certeza, porto, balanço, arrimo, ponte, mão que abre a gaiola, amor que não prende, fundamento, enigma, pacificação.

    Ser pai é atingir o máximo de angústia no máximo de silêncio.

    O máximo de convivência no máximo de solidão.

    É, enfim, colher a vitória exatamente quando percebe que o filho a quem ajudou a crescer já, dele, não necessita para viver.

    É quem se anula na obra que realizou e sorri, sereno, por tudo haver feito para deixar de ser importante.

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